[FP] Miyamoto Shun

CIVIS

MIYAMOTO SHUN

Contar a tragetória de sua vida sempre foi algo muito chato, então, quando Shun realmente é obrigado a fazê-lo (como agora), ele costuma mentir. Não ao pé da letra, embora. Ele corta alguns anos de sua vida e estende outros, começando sempre da mesma forma: “Nasci em Osaka, Japão, no dia 11 de novembro.” Seus pais, o Sr. e a Sra. Miyamoto, alphas puros, são os únicos responsáveis por ele ter crescido em uma família de classe média alta. E até os dez anos, ele teve uma infância bastante normal – caindo no parque, fugindo dos valentões na escola e andando sempre com o mesmo grupo de crianças. Aos 11, sua família decidiu que Shun era velho o suficiente para acompanhá-los no hobbie que eles contiveram desde o nascimento do garoto: viajar pelo mundo.  

Dos 11 aos 17 anos, sua vida pode muito bem ser resumida última frase supramencionada. Os Miyamoto’s gostavam de fazer duas viagens por semestre – três meses era tempo suficiente para explorar e se aconchegar a um país: falar um pouco língua de maneira arrastada, imitar trejeitos nativos e criar amizades sem aprofundá-las. E enquanto entendia por que seus pais adoravam aquilo – realmente, ele entendia –, após alguns anos de consumir o mundo sem criar raízes, Shun passou a acompanhá-los estando no modo automático. Hoje possui fotos de lugares que nem lembra-se de ter visitado. De qualquer forma, muitas coisas aconteceram durante estes sete anos.

Quando tinha 17, Shun teve uma briga séria com os pais quando admitiu sua (bi)sexualidade, e este acabou por ser o principal motivo dele se mudar, quatro anos atrás, para Seoul, após cortar laços com seus progenitores. As memórias daquela conversa – se é que a troca de palavrões (com seu pai) e lágrimas (com sua mãe) pode ser considerada uma – permanecem frescas em sua mente, e o fato de que eles ainda tentam contatá-lo hoje é algo que lhe causa um misto de tristeza e angústia, mas não arrependimento. O que mais poderia ter feito naquela situação? Continuado no armário, conquistando a outra parte de Nárnia? Sem chance. A única lamentação oriunda de seu último encontro com o Sr. e a Sra. Miyamoto foi, talvez, ter dito que havia dormido com o libanês cuja família cedera a casa à eles durante a viagem anterior que tiveram ao país. Costumava preferir não envolver terceiros em seus problemas – e, pensando bem, expor seu histórico sexual aos mais velhos definitivamente não tinha sido a melhor forma de provar o ponto que estava tentando fazer ali.

Libaneses – ou francesas, ou americanos – à parte, Shun não arrepende-se nenhum pouco de ter escolhido morar na Coréia do Sul ao invés de seu país nativo. Como possui um aprendizado rápido tratando-se de idiomas, e sendo sua estadia, na verdade, um “comeback” ao país, ele adequou-se rápido àquele estilo de vida e costumes que, sinceramente, não estavam muito longe dos que ele já cumpria no Japão. Queria recomeçar sua vida, mas não voltar ao ponto inicial. E naquele momento, então, Seoul lhe pareceu a mais atrativa e aconchegante das opções.

Atualmente, está cursando Jornalismo em uma universidade pública coreana e se sustenta como pode através de seu emprego de meio-período. Possui um blog onde trata dos mais diversos assuntos – desde histórias de relacionamentos com foco no gene ABO e recomendações literárias até revisões de álbuns musicais – e cujas publicações estão assinadas como “Devil Knows Best” (ou simplesmente “D”), combinando com sua escrita carregada de humor negro. Embora nunca tenha postado uma foto de si mesmo ali, não acredita no “anonimato” de sua figura. Qualquer pessoa com tempo e paciência suficiente poderia ligaria os pontos até chegar à identidade do autor por trás do site, no mínimo, peculiar. Nunca se esforçou para esconder a si mesmo, apenas não fazia questão de expôr-se de forma desnecessária. (Obviamente, o mesmo não vale para seus amigos e inimigos.)

Seus pais são verdadeiros turistas, e talvez um pouco disto tenha (infelizmente) passado para Shun. Por conta de tantas viagens sob as quais foi submetido (algumas de boa vontade, outras nem tanto), o rapaz acha que se relacionar com as pessoas é uma questão de sobrevivência, e dificilmente termina algo que começou. Está cheio de "talentos" que costumam servir para absolutamente nada em seu dia-a-dia (nem mesmo impressionar alguém), como saber pedir coca-cola e fritas em onze línguas diferentes, ou ter mais de cem fotos de si mesmo com gatos que não lhe pertencem ao redor do mundo.

Costuma ter uma língua afiada para dizer (ou escrever) o que pensa, e às vezes ultrapassa a linha da compostura coreana, agindo muito mais íntimo do que deveria. Gosta de bajular sobre a própria ética jornalística, baseada apenas na "verdade". E totalmente adoraria todos os gatos que encontrasse na rua, se pudesse. As características de sua nacionalidade japonesa estão inclusas em sua personalidade da forma mais estranha: não sabe usar os hashis para comer, mas se pega citando linhas de Naruto em voz alta quando a vida parece difícil. Gosta de dormir no chão embora tenha uma cama e ameaça cortar relações com qualquer sujeito que entre em seu apartamento usando sapatos.